Mãe de vítima de cratera do Metrô quer lápide para mortos em Pinheiros

A mãe do cobrador Wescley Adriano da Silva, um dos sete mortos no desabamento do canteiro de obras da Estação Pinheiros do Metrô em 12 de janeiro de 2007, cobrou do governo paulista a construção de uma lápide, um monumento ou a colocação de uma uma placa em homenagem às vítimas no local da tragédia. Desde a morte do filho, a assistente administrativa desempregada Elenilda Adriano da Silva, de 46 anos, mora em Natal (RN). Nesta segunda-feira (16), ela procurou o G1 para criticar a inauguração da estação, que ocorreu pela manhã.

“O governo passado havia dito aos parentes das vítimas que colocaria uma lápide com o nome delas. Onde está a placa agora? Esqueceram?”, questionou Elenilda. “É preciso que as gerações saibam que essa estação só nasceu às custas de sete vidas que se foram.”

Leia abaixo trechos do email que a mãe de Wescley encaminhou ao G1.

“Quatro anos depois da morte do meu filho, sinto um vazio imenso, preenchido com as recordações dos anos que convivi com ele.”

“Como mãe sinto-me de mãos atadas pois a justiça não foi feita e os assassinos dele continuam sem punição enquanto que eu e os demais familiares vivemos com nossa dor.”

“Não ha um só dia que eu não lembre do meu filho, me tornei uma filha rebelde e uma mãe arrogante, entrei em depressão e continuo.”

“As lágrimas correm no meu rosto e a dor aperta no meu coração. Estou desempregada, mas mesmo assim tenho dignidade e não abro mão de um centavo do que foi calculado.”

José Serra, governador de SP em 2007, e o atual governador do estado, Geraldo Alckmin, estiveram presentes nesta manhã na inauguração da estação. Apesar do protesto de parentes das vítimas no local, os políticos não informaram se alguma homenagem será feita aos mortos.

Procurada, a assessoria de imprensa do ex-governador afirmou que ele não vai comentar o assunto. Segundo o governo, quem pode falar sobre o assunto é o Metrô.

O Metrô disse que estuda a possibilidade de colocar uma placa em homenagem aos mortos, mas que esse assunto ainda não foi definido.

Elenilda também é uma das pessoas que não concordaram com o valor da indenização que o Consórcio Via Amarela (OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), responsável pelas obras de construção da Linha 4-Amarela, queria pagar aos parentes das vítimas. “Ofereceram-me R$ 250 mil, mas meu advogado entrou com uma ação na Justiça contra os responsáveis pela obra pedindo R$ 520 mil”, disse a mulher.

A Linha 4-Amarela terá 12,8 km de extensão, vai ligar o bairro da Luz (centro de SP) à Vila Sônia (Zona Sul de SP) e custou R$ 3,8 bilhões.

Há quatro anos, o desmoronamento no canteiro de obras da Estação Pinheiros do Metrô abriu uma a cratera que tragou uma van, três caminhões do serviço, três carros e sete pessoas. Três delas estavam na lotação – além de Wescley, o motorista Reinaldo Aparecido Leite, 40 anos; e um passageiro, o funcionário público Marcio Rodrigues Alambert, de 31anos. As outras vítimas foram o motorista da obra Francisco Sabino Torres, 48 anos, a aposentada Abigail Rossi de Azevedo, 75 anos, o oficce-boy Cícero Augustino da Silva, 58 anos, e a bacharel em direito Valéria Alves Marmit, 37 anos, que caminhavam na calçada da Rua Capri, usada como acesso dos operários ao túnel em perfuração.

O GPS do micro-ônibus indicava que ele estava 28 metros abaixo dos entulhos. O veículo ficou reduzido a um bloco de sucata com 60 centímetros de altura. A primeira vítima foi retirada pelos bombeiros no quarto dia de buscas. O último corpo foi encontrado no 13º dia.

Minutos antes daquele desmoronamento, 25 funcionários abandonaram às pressas o canteiro de obras do Metrô. Na véspera do acidente, havia ocorrido um rebaixamento do teto, mas engenheiros do Consórcio Via Amarela optaram por reforçar as paredes sem paralisar o serviço. A área não foi interditada.





Após 19 meses de investigação, o Instituto de Criminalística (IC), da Polícia Técnico-Científica, concluiu o laudo sobre as causas do acidente e apontou que problemas de execução da obra provocaram a queda das paredes do túnel.

A juíza Margot Begossi, da 1ª Vara Criminal, aceitou a denúncia feita pelo então promotor Arnaldo Hossepian Júnior, atual secretário adjunto da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. Em janeiro de 2009, ele acusou 14 pessoas, entre engenheiros e técnicos, de desabamento culposo (sem intenção). Todos se tornaram réus no processo e respondem em liberdade e no exercício da profissão.

Como o crime é de menor potencial ofensivo, caso sejam condenados, a pena não deverá passar de mais de dois anos e meio de reclusão e, por esse motivo, o regime de prisão deles deverá ser aberto. Os advogados dos réus alegaram na defesa de seus clientes que houve uma falha geológica imprevisível para justificar a abertura do buraco.

Para a promotora Eliane Passarelli, que representa a denúncia, não houve abalo sísmico que justificasse o desabamento. Ela considera que houve, sim, imprudência, imperícia, falha humana e técnica. O processo questiona a qualidade do material usado e a negligência quanto às medidas preventivas e as falhas na análise do solo. Em outras palavras, para o Ministério Público, a tragédia poderia ter sido evitada se os responsáveis tivessem alertado às autoridades e interrompido a obra em tempo.

Segundo ela, todo o processo tem 14 volumes e 60 apensos com 200 folhas cada. “Houve imperícia e negligência. A tragédia poderia ter sido evitada. Se tivessem sido alertados. Deveriam ter colocado 300 peças de sustentação no túnel, mas só colocaram 30”.

Audiência em setembro
Apesar disso, após quatro anos a Justiça ainda não ouviu ninguém a respeito do que ocorreu em janeiro de 2007 no canteiro de obras do Metrô. O processo chegou a ficar suspenso até o julgamento do mérito de um pedido de habeas corpus em favor dos réus para que a ação penal fosse trancada. A solicitação foi negada pelos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

De acordo com a assessoria de imprensa do TJ-SP, a audiência de instrução ocorrerá em setembro no Fórum de Pinheiros, com a oitiva das testemunhas de acusação. Após a inquirição das testemunhas de acusação, será marcada uma data para oitiva das testemunhas de defesa. Feito isso, serão ouvidos os réus e a juíza irá decidir se levará os acusados a julgamento ou não.

Consórcio Via Amarela
Procurado para comentar o assunto, o Consórcio Via Amarela informou que “as indenizações foram quitadas com valores provenientes do seguro do contrato de construção da Linha 4. Todas as famílias das vítimas fatais, assim como os proprietários dos imóveis afetados pelo acidente, foram indenizados.”

Questionado sobre as causas do desabamento, o consórcio informa que “contratou renomados consultores independentes, do Brasil e do exterior, especializados em diferentes áreas, que elaboraram pareceres sobre as causas do colapso na Estação Pinheiros. O estudo resultou em um relatório técnico com mais de 800 páginas que concluiu pela ocorrência de três fatores geológicos simultaneamente combinados, em circunstâncias totalmente imprevisíveis, apesar de adotadas todas as medidas preventivas existentes nas mais modernas técnicas de engenharia.”

A respeito da denúncia do Ministério Público, o consórcio diz que “dos 14 denunciados, cinco têm relação com o Consórcio Via Amarela, os demais são integrantes do Metrô e do consórcio de empresas projetistas. A defesa de cada um está a cargo dos respectivos advogados nos autos dos processos.”

Fonte: G1





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