Pinheiros: o fim dos shows ao ar livre na Teodoro Sampaio

Era tradição. Todo sábado à tarde, músicos de todos os estilos, inclusive cantores gospel, convergiam para uma verdadeira festa ao ar livre que acontecia na Rua Teodoro Sampaio, no bairro Pinehiros, Zona Oeste. Mas o chamado Projeto Toca Brasil, que ocorria sempre em frente à loja especializada em guitarras e amplificadores Matic, deixou de fazer parte do cenário paulistano.

O show semanal que atraía o público jovem à parte alta da Teodoro Sampaio, onde estão cerca de 30 lojas de instrumentos musicais e acessórios, acabou em dezembro, quando João Marcos Matic, 47 anos, dono da loja, foi despejado do imóvel. “Tivemos de parar temporariamente nosso evento, mas vamos levá-lo para outro local.”

Desde lá, fazer compras durante as tardes de sábado nessas lojas, onde é possível encontrar desde bolinhas de pingue-pongue adaptadas como chocalho até caríssimos pianos e saxofones, não tem o mesmo gosto.

Sheila Gonçalves, 35 anos, dona da Batucadas 1.000, tem procurado estimular a continuidade dessas tardes musicais em seu estabelecimento. A loja é a mais barulhenta da rua e o público já está se acostumando a parar para ouvir o som que está sendo tirado. “As pessoas ouvem, chegam perto, entram e as vezes compram alguma coisa”, disse Sheila. Sua loja é considerada pelo público da rua o paraíso dos bongôs, tambores e objetos que produzem barulhinhos inusitados.





Mesmo assim, os músicos não abandonaram o costume. Chegam de todas as partes, brincam com os instrumentos, colocam o papo em dia, misturam-se aos clientes. E, às vezes, produzem ali mesmo, nas lojas de instrumentos musicais e acessórios da Rua Teodoro Sampaio verdadeiras jam sessions, ou seja, dão “canja” sem ensaio prévio, na total improvisação.

Clemencial de Abreu, 71 anos, o Folhinha, é um desses músicos que frequentam a Teodoro Sampaio. Ele é especialista em improvisar sons com uma folha de árvore, que ele coloca sobre a lingua, daí o apelido. Gosta de frequentar a loja Batucadas 1.000, onde se junta a outros músicos para tocar.

“Isso aqui é um barato”, disse Folhinha, enquanto tocava com o percursionista Marcelo Caverna, 34 anos, “Na baixa do sapateiro”, música de Caetano Veloso. Logo se juntou ao batuque o baterista Guido Carli, 57 anos, outro assíduo frequentador da loja. “Esses encontros alimentam a gente musicalmente”, afirmou.

Na loja da frente, João Luis Studart, 27 anos, professor de violão em Fortaleza (CE), testava um violão profissional. “Sempre que posso venho aqui comprar instrumentos e aproveito para tocar um pouco”, contou.

Fonte: Diário de S. Paulo





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