Cresce violência contra crianças em bairros da classe média e Pinheiros tem um dos maiores crescimentos

SÃO PAULO – Cresce na capital paulista a internação de crianças por causas relacionadas a possíveis agressões. Segundo levantamento do Observatório Nossa São Paulo, com base nos dados do Departamento de Informação do SUS (Datasus), as internações com suspeita de agressão passaram de 69,07 por 100 mil habitantes em 2006 para 211,81 por 100 mil habitantes em 2007. O maior crescimento ocorreu em bairros de classe média: o aumento foi de 206% em Pinheiros, 192% no Jabaquara e de 170% na Vila Mariana.

A subprefeitura da Freguesia do Ó, na zona norte, lidera o ranking, com uma taxa de 382,65 casos por 100 mil habitantes, seguida pelo Jabaquara, São Miguel Paulista (258,97), Ermelino Matarazzo (258,46) e Sé (255) – esta última corresponde ao centro de São Paulo, onde é comum ver crianças drogadas e dormindo nas ruas.

Carlina Henrique da Silva, conselheira tutelar de Pinheiros, as denúncias envolvem de agressão física e verbal a negligência.

– Ao contrário do que se imagina, há muitos casos em famílias que vivem em bairros chiques e têm boa condição social – diz ela.

Anna Penido, coordenadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, afirma que não é possível dizer se há uma tendência de aumento nas agressões ou se o aumento reflete uma melhoria na qualidade da informação disponível. Segundo ela, a comoção causada por casos de repercussão, como a morte da menina Isabella Nardoni, 5 anos, cujo pai e madrasta são acusados pelo crime, deixa as pessoas mais alertas para detectar e informar agressões envolvendo crianças.

– Os médicos estão mais atentos, mais aptos a identificar sinais de abuso. Também não se pode descartar que a violência, de forma geral, tem aumentado – diz Anna.





Quase 4 mil denúncias em seis meses

Um estudo feito em 2006 pelo Unicef mostra que agressões e negligência são responsáveis por quase um quarto das mortes de crianças de 0 a 6 anos. As denúncias sobre maus-tratos contra crianças ocupam também o terceiro lugar no ranking de ligações recebidas pelo Disque-Denúncia ( telefone 181). As queixas perdem somente para o tráfico de drogas e a prática de jogos de azar, segundo o Instituto São Paulo Contra a Violência, responsável por esse serviço. O instituto recebe mensalmente 700 ligações sobre violência contra crianças. No primeiro semestre deste ano, já foram atendidos 3.895 telefonemas.

Na Freguesia do Ó, o conselho tutelar afirma que o número de casos sempre foi alto, mas nos últimos tempos cresceram as denúncias de maus-tratos.

Segundo Humberto Elker, conselheiro tutelar da região, as denúncias chegam, na maior parte das vezes, por vizinhos.

– Cabe ao conselheiro investigar o que houve e tomar as providências para garantir a segurança da criança. A comoção causada pelos grandes casos divulgados pela imprensa têm contribuído para o aumento das denúncias. Vizinhos, professores e parentes estão mais atentos – avalia.

O bairro da Mooca, na zona leste, é a região com a menor taxa de casos por cem mil habitantes, e também a que apresentou a maior redução: passou de 191,48 casos em 2006 para 67,23 no ano passado – queda de 64,89% nas internações.

Fonte: O Globo





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